Miguel Andresen de Sousa Tavares (Porto, 25 de junho de 1952) é um jornalista, editor, escritor e comentador político português.Os seus artigos de opinião (mais recentemente, na SIC Notícias, Expresso e TVI 24) são, frequentemente, polémicos.É um habitual crítico do Acordo Ortográfico, da Lei do Tabaco, de várias greves em Portugal, da privatização da TAP, do partido Pessoas-Animais-Natureza e das Forças Armadas.
No começo do século XX, Luis Bernardo Valença, conhecido intelectual português, é convidado pelo rei d. Carlos a executar uma missão descabida e complicada, que implicará numa abrupta mudança de sua vida. Solteiro e perto dos quarenta anos, ele desfruta das regalias que uma cidade grande como Lisboa tem a oferecer. Aceitar o convite do rei significa abandonar tudo por uma vida nova, na qual, entretanto, poderia colocar em prática suas convicções políticas: contribuir para a efetiva abolição da escravatura na África, assumindo o papel de governador de São Tomé e Príncipe. Mais de um século depois de abolida a escravidão em Portugal, ainda sobram dúvidas se de fato os trabalhadores são empregados e bem tratados. É mesmo difícil esclarecer o limiar entre o trabalho escravo e o assalariado. Muitas vezes, sobretudo em pequenas colônias perdidas no meio da África, um homem que tem contrato assinado pode, mesmo assim, continuar a receber chicotadas de quem não sabe se deve chamar de “senhor” ou de “patrão”. Equador, primeiro romance de Miguel Sousa Tavares, publicado em 2003, trata justamente dessa complexidade política e da dificuldade de definir na prática aquilo que parece claro nos conceitos e na teoria. Mais do que isso, este livro fala das paixões humanas e de como elas interferem nos jogos de poder. Luis Bernardo decide aceitar a missão proposta e é então jogado em uma realidade completamente alheia. Percebe que só a sua inteligência não será suficiente para dar conta do que o espera na ilha de São Tomé e Príncipe, onde chegam apenas dois barcos por mês e a população desconhece os direitos humanos já há muito tempo em voga na Europa. O leitor, acompanhando os passos de Luis Bernardo, vai conhecendo o território e os personagens da ilha por meio das descrições minuciosas do autor; junto do protagonista, percebe a ambiguidade da sua realidade. E não são apenas questões políticas que estão envolvidas nesse cenário: quando Luis é tomado por uma paixão proibida e incontornável, tudo se torna ainda mais confuso e envolvente. “Um livro magnífico. Há muitas décadas que não tinha aquele fervor juvenil para acabar um romance.” - Vasco Graça Moura “Um olhar cinematográfico, no qual palavra e imagem se casam, história e ficção se entrelaçam.” - O Globo “Um grande romance, uma epopeia destinada a ficar na história da literatura europeia.” - La Nazione
Eu sou um contador de histórias. Pagam-me para percorrer o mundo e contar o que vi. Umas vezes vi tragédias, miséria, coisas que magoava descrever. Outras vezes vi sonhos, esperanças, histórias felizes. Este é um livro que reúne apenas a parte boa daquilo que me coube em sorte ver e contar. São muitos e todos fascinantes os destinos deste Sul. De São Tomé e Príncipe a Itália com paragens em Goa, Cabo Verde, Egito, Espanha, Marrocos, Costa do Marfim ou Tunísia, da amazónia à selva africana, Miguel Sousa Tavares transporta nos para um sem fim de lugares inesquecíveis através das páginas deste livro. Resultado de várias viagens que fez como jornalista, Sul é um livro ímpar apresenta nos o jornalista viajante contador de histórias, descobrindo e dando a descobrir o lado mais profundo e verdadeiro de cada um destes países. Sul é um hino às experiências que nos enriquem de forma indelével e um convite irrecusável para embarcar numa aventura intemporal
Com grande habilidade em casar ficção e história, Miguel Sousa Tavares, autor do aclamado Equador, faz neste seu segundo romance uma crítica a tudo o que tolhe a liberdade, seja no plano mais íntimo ou nos vastos territórios da política e da sociedade de uma maneira geral. A narrativa, que conta a história de três gerações da família Ribera Flores, se inicia em 1915 com a primeira República portuguesa e os embates com os monarquistas, percorrendo os principais acontecimentos políticos, sociais e culturais que marcaram Portugal, Espanha, Alemanha e o Brasil até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Filhos do monarquista e grande proprietário de terras alentejano Manuel Custódio, Diogo e Pedro protagonizam pólos opostos no seio familiar, mas que são reflexo dos acontecimentos externos. O primeiro, intelectual e absolutamente contrário aos totalitarismos, quer a mudança e decide deixar a mulher, as terras do clã e o Portugal salazarista para começar vida nova ao lado de uma mulata numa fazenda no Vale do Paraíba, no Brasil, em pleno Estado Novo. Pedro, no entanto, quer assegurar a permanência de sua posição de latifundiário. "Tu podes fazer este papel porque está alguém aqui a manter as coisas", diz a Diogo. Chega a aderir à União Nacional e lutar ao lado dos franquistas na Guerra Civil Espanhola. Por meio de uma prosa envolvente e rica em detalhes, o autor traça, através da história dos Ribera Flores - com suas tradições, histórias de amor e rupturas -, um grande painel que comporta as principais contradições e acontecimentos da primeira metade do século XX. "Este é um livro com muita força, que se lê com avidez e prazer." - Vasco Graça Moura, Jornal de Letras, Artes e Ideias
Um jornalista relembra uma travessia do deserto do Saara feita com uma garota quinze anos mais jovem. Durante quarenta dias, o narrador e Cláudia atravessaram as paisagens áridas do continente africano e viveram uma experiência marcante, que vai se projetar por muito tempo na vida de ambos. A viagem aconteceu em 1987 e o narrador se põe a contar a história vinte anos depois. Ele é racional e impetuoso. Ela, impulsiva e imatura, mas também espontânea e encantadora. Eles partem de Lisboa num jipe abastecido de comida enlatada, alguma bebida alcoólica, uma bússola e um mapa militar dos anos 1950. Os demais integrantes da excursão (mais uma dezena de jipes) vão pelo Marrocos, mas o casal entra no continente africano pela Argélia, pois dependem de uma licença de filmagem expedida em Argel. O jornalista capta imagens que usará em reportagens para revistas e uma televisão portuguesas. A princípio marcada pela distância, a relação entre os dois aventureiros se intensifica ao longo da viagem na luta contra o tempo, no enfrentamento da burocracia e da corrupção argelina, na confusão das cidades africanas e no dia a dia de acampamento e improvisos. A intimidade avança para um sentimento amoroso, que nasce da cumplicidade naquela situação adversa: solidão, viagem, silêncio, paisagens inóspitas. Vinte anos depois o narrador descobre casualmente que a moça morreu e decide contar a história desse amor para, de alguma forma, reter a felicidade desse encontro na memória. O romance é um acerto de contas emocionado desse jornalista-narrador para com a memória de Cláudia, de quem ele guarda poucas fotografias, mas numerosas e intensas lembranças.
Numa madrugada de 1988, três estudantes de Évora e uma jovem de dezesseis anos saem para uma farra regada a muito álcool que terminaria em tragédia. Um dos rapazes é Filipe, último descendente da aldeia alentejana de Medronhais da Serra, hoje habitada por um único homem, seu avô, Tomaz da Burra. O romance do português Miguel Sousa Tavares acompanha as vidas desta família desde a Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura de Salazar em abril de 1974, até os dias atuais. O pai de Filipe, Francisco, ficou viúvo muito cedo e sempre pareceu alheio ao que acontecia na aldeia. Mas, com as mudanças políticas, ele parece encontrar na reforma agrária uma razão para viver e decide se mudar para uma fazenda comunal, deixando o filho único para ser cuidado pelos avós. Filipe cresce nesta Medronhais da Serra fora do tempo, um lugar que tinha pouco mais de cinquenta habitantes e demorou muito a ganhar o seu primeiro aparelho de televisão. Ele se torna arquiteto e vai trabalhar em uma cidade costeira do Alentejo, onde passa a conhecer cada vez mais de perto as sujeiras da corrupção política. Ao tentar não se envolver num esquema de fraudes e propinas, voltará a ser assombrado pela trágica noite que viveu na juventude. Narrado em um ritmo vertiginoso, que faz o leitor agarrar-se ao livro até o fim, Madrugada suja alterna a voz de diferentes personagens a cada capítulo. Além de um retrato crítico e acurado sobre as mudanças em Portugal nos últimos quarenta anos, o escritor criou uma história fascinante sobre como os acasos da vida nos levam a situações-limite.
Em "Não te deixarei morrer David Crockett" escrito anteriormente ao lançamento de seu grande romance "Equador" Miguel Sousa Tavares faz uma seleção de 38 textos ficcionais publicados em revistas portuguesas além de algum material inédito para criar um agradável livro de contos no qual os leitores podem se deliciar com a prosa de um dos mais respeitados jornalistas portugueses que obteve grande sucesso no campo da ficção.
Que segredos pode esconder um rio? Para o menino desta história, filho de camponeses, que vive brincando sozinho à beira do riacho próximo de sua casa, ele esconde um segredo surpreendente: é que ali vive uma carpa que sabe a língua dos homens. E uma amizade secreta, só deles, vai se estabelecer entre peixe e menino. Uma relação que acaba levando o pai do garoto a perceber a importância de se preservar a vida no riacho, que sofre com uma forte seca que assola a região. Escrito em homenagem ao filho do escritor - que um dia perguntou ao pai por que as estrelas não caem do céu -, este livro fala, de maneira poética e delicada, da necessidade de se proteger a natureza. Em Portugal, a obra é uma referência obrigatória na literatura infantil.
Ismael é um coelho muito sabido: entre seus 52 irmãos, foi o único escolhido pelo pai para aprender os segredos do bosque. Juntos, os dois passam os dias a se aventurar pelos cantos da floresta, observando animais e plantas, admirando as brincadeiras dos bichos no grande lago e aprendendo segredos sobre um outro mundo: o pai de Ismael conhece a língua dos homens e a ensina ao filho, aconselhando que ele tenha cuidado com eles. Mal sabia o velho coelho que isso levaria ao início de uma grande amizade. É que Chopin, o compositor, havia se refugiado numa casa bem perto do bosque, pois estava muito doente, e passava a noite sentado ao piano tocando suas composições. Atraído pela música, Ismael vai se aproximando cada vez mais até que um dia, sem se dar conta, o coelhinho acaba iniciando uma conversa com o músico. Desse encontro inicial vai surgir uma forte amizade, que mostrará, para o pequeno leitor, a força da música, arte capaz de unir personagens tão singulares e díspares quanto um coelho e um dos maiores compositores de todos os tempos.
Saiba maisCebola Crua com Sal e Broa Da infância para o mundo
Saiba maisCozinha d’Amigos não é mais um livro de cozinha. É, sobretudo, um livro sobre o gosto e prazer de cozinhar, o pretexto para partilhar com os amigos, com tempo e deleite, uma refeição elaborada com tempo e com muito carinho. Traduz, neste sentido, amar e respeitar o espaço-cozinha mais do que a cozinha-culinária, propriamente dita. Reflecte também o gosto e a filosofia de alguém que se habituou a "trabalhar" (como dizem os cozinheiros) com aquilo que Portugal tem de melhor e, às vezes, único: o peixe e o marisco, a caça e o porco, as ervas, o azeite, as batatas - e a não complicar. Neste sentido, é também um livro sobre a superioridade da cozinha natural, simples e de amigos, em relação à cozinha de autor, à "Nouvelle Cuisine" e ao "show-off" a ela associado. Este livro é sobre tudo isto. Tem receitas, claro: do autor, dos amigos do autor, do domínio público. Mas tem, também, mais do que apenas receitas: tem o registo dos hábitos na cozinha, das teorias (porventura erradas, quem sabe?), sobre a melhor forma de grelhar um peixe, das manias e até dos estados de alma. Por estas razões, Cozinha d’Amigos, mais do que um novo livro de Miguel Sousa Tavares, é um livro que, além de grande originalidade, vai certamente proporcionar ao leitor grandes momentos de saboroso prazer.
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