João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro foi um escritor e ganhador do Prêmio Camões de 2008. Ubaldo Ribeiro teve algumas obras adaptadas para a televisão e para o cinema, além de ter sido distinguido em outros países, como a Alemanha.[1] É autor de romances como Sargento Getúlio, O Sorriso do Lagarto, A Casa dos Budas Ditosos, que causou polêmica e ficou proibido em alguns estabelecimentos,[2] e Viva o Povo Brasileiro, tendo sido, esse último, destacado como samba-enredo pela escola de samba Império da Tijuca, no Carnaval de 1987.
Obra que confirmou definitivamente o lugar de João Ubaldo Ribeiro entre os maiores escritores de língua portuguesa, Viva o povo brasileiro foi lançado treze anos depois de Sargento Getúlio. Consagrado pela crítica e pelos leitores e considerado um dos mais importantes romances da literatura nacional, o livro se volta às origens do Recôncavo Baiano para recriar quase quatro séculos da história do país por meio da saga de múltiplos personagens. Viva o povo brasileiro se desenvolve em grande parte no século XIX, mas também viaja a 1647 e avança até 1977. Nele, realidade e ficção se misturam para criar um épico brasileiro com passagens heróicas e cômicas, tendo como pano de fundo momentos decisivos para a história do país, como a Revolta de Canudos e a Guerra do Paraguai. Como aponta em seu texto "Brava gente brasileira" o professor de literatura João Luís C. T. Ceccantini, Viva o povo brasileiro é uma espécie de ‘epopéia às avessas', em que a história do Brasil ressurge não sob a perspectiva da ‘História oficial', mas pela ótica de personagens anônimos do povo brasileiro. Na trama, o escritor segue as trilhas de um romance popular, sem cair no "popularesco" ou no "populismo". E a saída que encontra para produzir um texto acessível mas ao mesmo tempo de alto nível literário é a da paródia e do humor." Traduzido para o alemão, espanhol, francês e italiano, e vertido para o inglês pelo próprio autor em dois anos de incomum e árduo trabalho, Viva o povo brasileiro ganhou em 1984 o prêmio Jabuti e o Golfinho de Ouro, do Governo do Rio de Janeiro.
Nova edição do clássico de João Ubaldo Ribeiro que marcou época. A casa dos budas ditosos, lançado originalmente em 1999, foi o quarto volume de uma série chamada Plenos Pecados, em que cada título era dedicado a um pecado capital. Poderoso e original, o romance de Ubaldo sobre a luxúria conquistou um número imenso de leitores e, de quebra, cutucou os moralistas de plantão. Em 2004, seguindo o que se tornou uma tradição de seus romances, A casa dos budas ditosos foi adaptado para o teatro por Domingos Oliveira, num monólogo estrelado por Fernanda Torres, que assina a apresentação desta edição. O espetáculo permaneceu por mais de uma década em cartaz, levando as memórias de orgias, voyeurismo e sadismo dessa impagável libertina para mais de 700 mil pessoas em todo o Brasil. A casa dos budas ditosos é um clássico da literatura erótica. Como afirma o próprio autor, “esse depoimento não é um romance, mas é olhar pelo buraco da fechadura”. E não há nada mais irresistível. “A literatura brasileira ainda não tinha produzido um romance na linhagem do erotismo elegante e radical e coube a João Ubaldo fazêlo. Não é um livro para leitores sem malícia, moralistas ou pudicos.” ― José Castello, O Estado de S. Paulo “CLB é uma baita invenção desse baiano chamado Ubaldo, um dos maiores contadores de causo que já conheci. O apego ao detalhe, a capacidade de nos fazer ver, cheirar, sentir, tudo fascina. Escritor rigoroso, o baiano é clássico, chulo, requintado, cerebral, passional, trágico, cômico e universal.” ― Fernanda Torres, no prefácio para esta edição “A casa dos budas ditosos é ideal para quem quer entrar na literatura de João Ubaldo Ribeiro de forma divertida, pela luxúria, por meio de provocação, com linguagem indecorosa no melhor sentido.” – Nélida Piñon
Sucesso de vendas e de crítica, foi adaptado para minissérie da TV Globo nos anos 1990. É um dos romances de maior repercussão de João Ubaldo. No livro, ele aborda temas como a ambição humana, o amor e as ameaças do mundo moderno, numa história cheia de traições e mistérios, que não perdeu nada de sua atualidade desde seu lançamento, em 1989.
Em Política, João Ubaldo Ribeiro escreve uma obra de não ficção que mantém as qualidades essenciais de sua obra ficcional: lucidez, criatividade, rigor narrativo. Mestre em ciências políticas, o escritor associa sua verve narrativa a um profundo conhecimento acadêmico para tratar de temas como poder, nação, soberania, democracias, ditaduras, partidos políticos, ideologias - com linguagem clara e em profundidade. Sem usar jargões nem impor qualquer visão particular, João Ubaldo decifra alguns enigmas desta atividade inexorável à vida humana - a Política. O livro explica o que é Política e por que ela interessa a todos e a cada um, desvendando conceitos fundamentais da sociedade e do Estado. Política pode ser visto como um curso prático e elementar sobre o assunto, para trabalhadores, estudantes, políticos, donas de casa e o povo em geral, com noções elementares sobre política, narradas de forma inteligente e original. Encerrando o volume, João incorpora um apêndice valioso, "Dez bons conselhos de meu pai para cidadãos honestos e prestantes", que entre outras lições de sabedoria política, ensina: "Não seja colonizado", "Não seja medroso", "Não seja calado", "Não seja burro".
João Ubaldo Ribeiro é o nome máximo da literatura brasileira, autor de clássicos da produção contemporânea, como Sargento Getúlio e O sorriso do lagarto. Em O feitiço da ilha do Pavão, publicado originalmente em 1997, ele retoma a dimensão histórica de Viva o povo brasileiro para narrar uma epopeia ágil, bem-humorada, dos habitantes de uma ilha imaginária na costa da Bahia, na época do Brasil colonial. A ilha do Pavão, geografia fantástica, é o microcosmo de uma sociedade de colonizadores portugueses, índios e negros. Mas esse mundo ficcional criado por Ubaldo alcança um patamar ainda maior: é a representação de um povo, com seus matizes, seus pontos de tensão, suas glórias. O livro não se restringe ao romance histórico; é um mergulho na própria identidade brasileira. O feitiço da ilha do Pavão é também uma narrativa vibrante, em que João Ubaldo explora ao máximo a riqueza da língua para criar diálogos vivazes, descrições de um colorido e uma precisão incomparáveis.
Vila Real é um romance dotado de tensão e violência. Publicado originalmente em 1979, este livro de João Ubaldo Ribeiro é uma complexa metáfora dos conflitos rurais que respingam de sangue a história do Brasil. Ambientada nas imediações de uma pequena cidade fictícia do sertão nordestino, a narrativa descreve a luta de camponeses contra a “Caravana Misteriosa”, como apelidam uma empresa mineradora que lhes tomara as terras. Argemiro é o líder dos posseiros expulsos da pequena Vila Real por uma companhia mineradora estrangeira. Ele enfrenta os homens chefiados por Genebaldo, defensor dos interesses da empresa e da ordem que está sendo ameaçada pelos camponeses. Sem as terras que lhes dão sustento para a vida e leito para a morte, os habitantes da cidade lutam para reconquistar o pouco que têm. Aliando-se ao temido Filho de Lourival, ao feroz Alarico e aos incendiários padres Bartolomeu e Benedito, Argemiro trava um sangrento embate no acampamento atacado pelo inimigo. Apesar das perdas, eles vencem a batalha – mas não a guerra. Argemiro acaba por se refugiar com seu povo junto ao rio Japiau. Lá, reúnem forças para seguir com a luta, ainda que a vitória lhes pareça cada vez mais incerta. Entre fugir e morrer, os sem-terra decidem resistir, mesmo que a vitória lhes pareça impossível. Mesmo diante da dureza do sertão nordestino, implacável por sua natureza agreste e suas injustiças sociais, Argemiro e a população de Vila Real resistem e fazem o máximo para saírem vitoriosos do trágico embate. Através das próprias reflexões dos personagens, vida, morte e a condição humana são abordadas com um olhar profundo. João Ubaldo Ribeiro faz em Vila Real um retrato da rústica imposição dos poderosos sobre os despossuídos, questão tão presente nos conflitos rurais. Ao mesmo tempo em que representa uma denúncia da perpétua injustiça social no campo e no sertão, o romance vai além. O autor mostra um olhar agudo sobre a miséria humana – e a esperança de superá-la.
Publicado originalmente em 1968, Setembro não tem sentido é o primeiro romance de João Ubaldo Ribeiro, escrito quando o autor tinha pouco mais de 20 anos de idade, mas que já revela características que o consagrariam como mestre da literatura contemporânea. No romance, passado durante as comemorações do feriado de sete de setembro, são narradas duas histórias em paralelo: a do boêmio Tristão, que sempre tumultua os eventos públicos da Semana da Pátria em Salvador com suas bebedeiras intermináveis; e a do jornalista aposentado Orlando, que vive recluso e rememora o passado com amargura enquanto perde gradualmente a sanidade. Apesar das diferenças, os dois protagonistas vivem o mesmo cotidiano vazio e tedioso, sem conseguir superar seus dilemas profissionais, intelectuais ou pessoais, buscando uma saída para as tensões políticas do início dos anos 1960. "Nós misturávamos cinismo e engajamento", lembra o escritor. "Meu primeiro livro, com todos os desajeitos da juventude, reflete essa época. É nosso autorretrato." Neste romance de geração, João Ubaldo Ribeiro entrelaça duas visões de mundo, numa estrutura não linear, construindo uma narrativa complexa sobre um período crucial na política brasileira.
O livro escancara a faceta irônica de João Ubaldo: publicado originalmente em 1974, o livro reúne cinco contos nos quais ele traça perfis absurdos e cria tramas tão inusitadas quanto hilariantes. Com uma linguagem que mescla erudito e popular, o autor cria narrativas breves que beiram o surreal, mas que tocam temas centrais do mundo contemporâneo – e particularmente do Brasil. O regime militar do Brasil acabou estimulando um período de grande efervescência cultural no país. Os mais variados segmentos artísticos, constantemente sufocados pela censura, empregaram diversas metáforas políticas nas obras da época. João Ubaldo Ribeiro é um representante dessa característica na literatura: satírico, questionador e dono de uma escrita agressiva, tem em seus romances uma forte presença da temática social. Em Vencecavalo e o outro povo, ao tratar a questão nacional a partir de um país fictício, João Ubaldo analisa temas essencialmente brasileiros como se tratasse de outro povo. A corrupção, a manipulação política, a injustiça, a violência física e simbólica são encenadas por meio de histórias satíricas e absurdas. Nelas, não são poupadas da ironia figuras simbólicas de presidentes, militares, conquistadores e mitos da história. Em “Vencecavalo Santos Bezerra”, acompanha-se a trajetória de um modesto nativo de Vila Necas que se tornou presidente da Borengânia, governando literalmente à base de marteladas na cabeça. “Tombatudo Santos Bezerra” satiriza a “descoberta” do Brasil, descrevendo a briga entre duas tribos indígenas e um povo que tem de comprar dos lusitanos um imenso e inútil carregamento de lonas que não encomendaram. “Rombaquirica Santos Bezerra” narra a intrincada história de um termômetro sexual francês que vai parar na mão do protagonista, na Paraíba, resultando numa sucessão de impagáveis peripécias. Em “Sangrador Santos Bezerra”, beato do Kazinguistão predestinado à santidade assume o governo para, por meio da guerra, salvar o país do pecaminoso comércio do “bicho-pica”. “Abusado Santos Bezerra” conclui o livro com a hilária intervenção de um investigador brasileiro, buscando solucionar um atentado contra o presidente dos Estados Unidos. Nestas cinco histórias, os protagonistas estão envolvidos em metáforas perturbadoras sobre a contemporaneidade. Sem poupar ninguém, João Ubaldo comprova que o riso é a mais poderosa das armas.
Saiba maisVida, morte, renovação. Temas universais que são o eixo em torno do qual se desenrola a trama simples deste belo romance. É a história de um homem muito velho que, apesar de detentor da sabedoria trazida por todos os seus anos de existência, ainda busca apreender algum sentido na vida. Um romance magnífico, destinado a incorporar-se ao melhor patrimônio literário de nossa língua, um momento de rara beleza, daqueles cuja mágica se abre ao leitor desde a primeira página.
Saiba maisUm dos nomes mais reconhecidos da literatura brasileira na Alemanha, o imortal João Ubaldo Ribeiro foi convidado pelo DAAD, um programa de intercâmbio alemão, para realizar um roteiro literário pelo país. Assim que chegou à Alemanha em 1990, o escritor baiano ganhou uma coluna no jornal Frankfurter Rundschau. O resultado foram crônicas bem-humoradas reunidas no livro Ein Brasilianer in Berlin, sucesso editorial naquele país. No Brasil, a temporada de Ubaldo no país de Goethe repetiu o êxito alemão. Lançado originalmente em 1995, Um Brasileiro em Berlim faz um registro impiedoso, divertido e inteligente da experiência de ser brasileiro num país culturalmente tão diverso. Ao longo das 16 crônicas escritas durante os 15 meses em que permaneceu na Alemanha, Ubaldo, com sua habitual ironia, aborda os estereótipos associados ao brasileiro como um povo sexualmente libertino e o contrapõe à sisudez, também estereotipada, do alemão, lembrando que na Alemanha a nudez pública é tratada com mais naturalidade do que em terras tupiniquins. 'Aqui ficar nu na rua não é como no Brasil, aqui é normal, lá é que é indecente, o pessoal aqui só quer tomar um solzinho e trocar uns beijinhos amistosos na frente dos outros. (...) Pois Bento, conversando comigo ontem, de homem para homem, me confessou que quer virar alemão. Aqui é muito melhor, aqui o negócio é quente, não tem uma porção de melindres e fricotes, como no Brasil.', descreve em 'Sexy Brasil. Sexy Berlin'. A orelha assinada por outro ilustre baiano, Jorge Amado, destaca o talento de Ubaldo para o conto. 'Alguns escritores brasileiros, Machado de Assis e Lima Barreto, por exemplo, escreveram romances e contos, uns e outros da mais alta qualidade. Citei Machado e Lima Barreto, não teria muitos outros para citar. João Ubaldo faz parte desse pequeno grupo de craques que chutam com o pé direito e o esquerdo', elogia o conterrâneo. No mesmo texto, Jorge Amado ressalta que Um Brasileiro em Berlim é daqueles livros que se lê com 'um sorriso no rosto'. E destaca o estilo bem-humorado característico do escritor já nas primeiras páginas sobre a chegada à Alemanha: 'Ele ri das pequenas mazelas e das pequenezas - a viagem aérea na classe econômica, um dos horrores do nosso tempo -, o riso por vezes se transforma em esgar, nem por isso menos divertido.' A reflexão, por vezes, substitui o humor, mas sem abrir mão da leveza da escrita. 'Quero salientar duas crônicas de sua autoria, uma intitulada ?Índio quer apito', a outra, cujo título não me ocorre, trata dos preconceitos de raça e de sexo, negritude e homossexualismo: são impecáveis, dizem o que deve ser dito, com coragem e decência', define Jorge Amado. Com a régua e o compasso próprios de um grande escritor, Ubaldo oferece uma visão original de um brasileiro típico e suas estranhezas pela capital alemã. Mesmo passados mais de 15 anos da primeira edição, o autor mostra mais uma vez que um bom texto não tem idade.
Saiba mais