Caetano Emanoel Viana Teles Veloso é um músico, produtor, arranjador e escritor brasileiro. Com uma carreira que ultrapassa cinco décadas, Caetano construiu uma obra musical marcada pela releitura e renovação e considerada amplamente como possuidora de grande valor intelectual e poético. Embora desde cedo tivesse aprendido a tocar violão em Salvador, escrito entre os anos de 1960 e 1962 críticas de cinema para o Diário de Notícias e conhecido o trabalho dos cantores de rádios e dos músicos de bossa nova (notavelmente João Gilberto, seu "mestre supremo" e com quem dividiria o palco anos mais tarde), Caetano iniciou seu trabalho profissionalmente apenas em 1965, com o compacto "Cavaleiro/Samba em Paz", enquanto acompanhava a irmã mais nova Maria Bethânia por suas apresentações nacionais do espetáculo Opinião, no Rio de Janeiro. Confira a seleção dos nossos editores dos melhores livros de Caetano Veloso.
Ao narrar sua formação cultural – que inclui música, cinema, artes plásticas, literatura e filosofia –, Caetano Veloso não se limita a escrever uma autobiografia. Nessa mistura de memórias, ensaio e História, tendo como eixo central a eclosão do tropicalismo em meio aos anos de chumbo, o autor esmiúça momentos decisivos da ditadura militar e os nomes com quem travou apaixonadas conversas. Partindo de Santo Amaro, na Bahia, onde leu Clarice Lispector, assistiu a "La strada", ouviu João Gilberto e teve sua primeira relação sexual, suas lembranças atravessam a adolescência, a prisão em 1968, o exílio em Londres e chegam ao fim da década de 1990 para compor um extraordinário panorama do Brasil. A nova edição de "Verdade tropical", com projeto gráfico redesenhado, inclui texto inédito escrito especialmente para este volume. Em “Carmen Miranda não sabia sambar”, Caetano pondera sobre as duas décadas que se passaram entre o lançamento do livro, em 1997, e hoje. Aos 75 anos, ele se debruça sobre sua trajetória musical – e também literária – para um acerto de contas com suas experiências pessoais, além de analisar assuntos relacionados à cultura, política e identidade do país. “Sou brasileiro e me tornei, mais ou menos involuntariamente, cantor e compositor de canções", ele escreve. "Fui um dos idealizadores e executores do projeto da Tropicália. Este livro é uma tentativa de narra e interpretar o que se passou.”
Ninguém desconhece a importância de Caetano Veloso na história da música brasileira. Mas é provável que muitos se surpreendam com este livro, que confirma o perfil do Caetano escritor, trazido à luz em Verdade tropical (1998). O mundo não é chato reúne escritos para jornais, revistas, contracapas de discos ou que surgiram como prefácios e conferências, além de alguns textos inéditos. Movido pelo vigor da observação, Caetano alia ao ponto de vista pessoal um inequívoco viés crítico e intelectual. Oswald de Andrade, Bob Dylan, Visconti, Pelé, Jimi Hendrix, Gilberto Gil, Glauber, Tom Jobim, Cazuza, Nelson Rodrigues, Fernando Pessoa, Elis Regina, Lorca são apenas alguns dos nomes que atravessam essas páginas. Deparamo-nos, então, com retratos, narrativas, interpretações e colagens que nascem tanto da admiração e da ternura comovida quanto da indignação, da ironia e da sátira. O arco de tempo que o livro abrange não é pequeno: inclui textos antigos, quando Caetano Veloso era um jovem crítico de cinema em Santo Amaro da Purificação, até escritos de 2005. No entanto, muito mais que o amadurecimento de um artista-pensador, assistimos nesta caminhada um relato penetrante sobre o Brasil.
Na madrugada do dia 27 de dezembro de 1968, duas semanas depois de o governo decretar o AI-5, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram retirados dos apartamentos onde moravam, no centro de São Paulo, e levados em uma caminhonete ao Rio de Janeiro. Conduzidos por policiais à paisana, eles foram presos sem nenhuma justificativa. Em Narciso em férias, volume avulso do capítulo homônimo de Verdade tropical, Caetano Veloso relata o impacto brutal que os 54 dias vividos no cárcere deixariam em sua vida ― não apenas pela dimensão política, mas também pela perspectiva psicológica e artística. Esta edição inclui uma seção com registros do processo aberto pela ditadura militar contra o cantor e compositor. Esses documentos ficaram guardados no Arquivo Nacional e seriam revelados ao artista pela primeira vez cinquenta anos mais tarde, em 2018. No texto inédito de apresentação, Caetano Veloso anuncia: “este, que é meu escrito a que atribuo maior valor, entra na cena atual da vida política brasileira de modo abrasivo”.
Desnecessário apresentar o autor deste ensaio. Uma das figuras mais importantes da nossa cultura, Caetano Veloso é tão múltiplo quanto sua obra. Para além do trabalho musical, ele é antes de tudo um pensador do Brasil. Política, sociologia, arte: nenhum assunto está longe de seu campo de interesse. Publicado em 1997, como capítulo do livro Verdade tropical, este ensaio-memória remonta o encontro de Caetano com o legado dos modernistas, em especial a obra de Oswald de Andrade. A partir de uma montagem da peça O rei da vela, pelo Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa, Caetano refaz o trajeto intelectual que culminaria na apropriação do conceito de antropofagia pelos tropicalistas. Ao mesmo tempo, traça um retrato afetivo dessa época de efervescência cultural e política, da qual ele foi um dos principais protagonistas.
Compositor singular, Caetano Veloso é um poeta extraordinário. Nascido em 1942, o artista inaugurou sua carreira com um compacto simples, em 1965, e dois anos depois lançou o disco Domingo. Desde então, foram cerca de quarenta álbuns de estúdio, além de gravações ao vivo e coletâneas. Com organização de Eucanaã Ferraz, Letras reúne todas as canções escritas por Caetano Veloso, começando por sua produção mais recente ― Meu coco, lançado em 2021 ― e chegando às primeiras composições do artista, em meio a discos de estúdio, canções gravadas por outros cantores, parcerias e trilhas sonoras. Ainda que tenham sido escritos para ser cantados, os versos revelam aqui sua vocação verdadeira: são poemas. Ao formular sua experiência individual de modo notável, Caetano Veloso faz com que suas palavras digam respeito a todos nós, seus ouvintes ― e leitores.
Letra só é uma seleção de letras de Caetano Veloso, organizada pelo poeta e professor de literatura brasileira Eucanaã Ferraz. O volume reúne versos dos quais se suprimiu a música, a fim de dar destaque à inventividade e à riqueza da escrita do compositor. Sobre as letras traz fotos do compositor e comentários do próprio Caetano a respeito da gênese de sua escrita. Caetano é um caso singular na música brasileira. Desde os anos 60, sua obra já apresentava uma mescla de alta cultura com cultura de massa, tendo como principais referências os Beatles, a pop art, o cinema de Godard e a poesia concreta. Além disso, o compositor sempre teve forte inclinação para trabalhar com deslocamentos conceituais e formais, levando ao extremo as dimensões estéticas da canção. Afastadas de sua melodia, as palavras ganham em materialidade e se mostram das mais diversas maneiras: versos econômicos aparecem ao lado de longas estruturas narrativas, construções experimentais convivem com formas tradicionais, simplicidade extrema se mistura a sofisticação formal. A seleção foi feita a partir das familiaridades temáticas ou formais, sem a preocupação de agrupamento por discos ou de seqüência cronológica. Entre os principais temas, estão Santo Amaro da Purificação, a Bahia, o Tropicalismo, a música, o amor, o Brasil, a existência, o cinema, a literatura e o Carnaval. O leitor de Letra só e Sobre as letras poderá confirmar a força dos versos de Caetano, com sua pulsação acelerada e seu forte diálogo com a tradição poética do país. E compreenderá melhor, a partir dos comentários do compositor a respeito das canções, por que suas letras se tornaram uma referência valiosa tanto para a poesia escrita como para a canção brasileira.
Rebelling against the Elvis-based, American-imported rock scene in late '60s Brazil, Caetano Veloso suffused lyrical Brazilian folksongs with fuzz guitar, avant-jazz, and electronic music-and in doing so blew apart the status quo of Brazilian culture. Caetano and the movement he catalyzed, tropicalia, urged an adoption of personal freedom in politics, music, and lifestyle. His "rabble-rousing," as the government saw it, would get Caetano and his comrade Gilberto Gil arrested and exiled to London to wait out the military dictatorship. His fame increasing by the year, Caetano focused on writing songs about his homeland, returning to Brazil as a national hero-a mantle he still wears today. His most recent album, Live in Bahia, was released to international critical and popular acclaim.